Visão sistêmica do ser: somos doentes, mas não doenças

Vivemos em uma cultura que remedia sintomas ao invés de lidar com as raízes do problema. Tratamos doenças ao invés de cuidarmos de doentes. E, pouco a pouco, adoecemos física, mental e emocionalmente. 

Para a visão sistêmica do ser, somos compostos por partes interdependentes e, se algo não estiver harmônico, todas as outras partes serão afetadas. Dessa forma, se apresentarmos desequilíbrios (físicos, emocionais e energéticos) em nossas vidas, isso pode afetar negativamente nossa saúde como um todo.

Sob a lente sistêmica, também vemos que a doença pode se externar de inúmeras maneiras, com toda uma infinidade de sintomas diferentes, pois cada indivíduo é único. Assim, sob esta lente,  não faz sentido tratar os sintomas sem entender as condições que levaram àquela manifestação.

Conheça também: Meditação Kirtan Kriya para quebrar padrões e gerar novos hábitos

De Hipócrates até a medicina moderna

Nos primórdios da medicina, as manifestações físicas da doença eram quase sempre explicadas em termos religiosos. Em um mundo onde se acreditava que as divindades afetavam diretamente os mortais, as convulsões, por exemplo, eram consideradas o resultado de ter enfurecido os deuses. 

Em 400 a.C., Hipócrates, considerado o pai da medicina ocidental, propôs um novo esquema no qual se buscavam explicações naturais – não religiosas – da doença. Hipócrates desviou definitivamente a medicina das funções sacerdotais ou mitológicas que então predominavam. Ele apontava que a interpretação da doença só seria possível através da observação do paciente.

Ainda que o berço da medicina ocidental tenha uma visão integradora, nos últimos séculos, vimos brotar uma disputa de ideologias após o surgimento da anatomia patológica e da tecnologia médica no início da era moderna. 

De um lado, a visão hipocrática. De outro, a despersonalização do paciente, reduzindo-o a uma soma silenciosa de partes mecanicistas.

Desta história surgem aspectos muito interessantes. Por um lado, fica claro que o discurso da medicina moderna é diferente do discurso do paciente, pois a doença definitivamente não representa a mesma coisa para ambos. Por outro lado, dá-se muito valor ao que pode ser mensurável e objetivado, em detrimento de ouvir o que o paciente tem a dizer sobre o que sente.

Talvez seja porque a cultura ocidental perdeu seu interesse na tradição oral que habilidades como ouvir, apreciar e interpretar as histórias de cada ser, pouco foram valorizadas nos currículos médicos. O conhecimento acerca da doença cresceu exponencialmente; no entanto, o conhecimento sobre como as pessoas sofrem com a doença permanece quase o mesmo da época de Hipócrates.

O que é a doença à luz da visão sistêmica do ser? 


Dentro de uma visão sistêmica do ser, a doença é o alerta deste sistema de que algo está em desequilíbrio. “É a manifestação de algo que já incorporou dentro do campo psicoemocional. Essa incorporação acontece ao não nos darmos conta dos sinais”, explica Dra. Carol Presotto - Simrat, médica e idealizadora da Medicina da Consciência. 

Desta forma, entendemos que não há doença, há doentes. Afinal, cada ser é um ser e a forma como a doença se manifesta é diferente de acordo com a conjuntura que levou àquilo, bem como os efeitos que desencadeará. 

Também compreendemos que nenhuma doença acontece isoladamente. Anterior ao desequilíbrio, há um histórico, fatores genéticos, hábitos de vida e bagagens que cada ser carrega consigo. É por isso que tratar apenas sintomas não proporcionará a cura. 

Quando alguém sofre de enxaqueca, por exemplo, as práticas integrativas  recomendam examinar todos os fatores potenciais que podem estar causando dores de cabeça, como outros problemas de saúde, hábitos alimentares e de sono, estresse e conflitos pessoais. O plano de tratamento pode envolver medicamentos para aliviar os sintomas, mas também modificações no estilo de vida para ajudar a prevenir a recorrência das crises.

O diagnóstico de uma doença não lhe define 


Os rótulos nos ajudam a tomar um atalho cognitivo para nos reconhecermos e nos relacionarmos com outras pessoas ou coisas ao nosso redor. É por isso que, quando recebemos um diagnóstico, é comum nos identificarmos com aquela doença e até mesmo criarmos uma identidade em cima disso. 

Diagnósticos são úteis para nos ajudar a entender o que estamos passando e para direcionar o tratamento adequado. Contudo, assumir rótulos reduz a complexidade de sua experiência e singularidade. 

ilustracao de mulher meditando conectada com os astros

Lembre-se: você anda na chuva e sente as gotas d’água, mas você não é a chuva.

É importante saber que as estatísticas em relação a uma doença são valiosas para orientar políticas públicas de saúde e indicar tratamentos que foram mais eficazes para a maioria dos casos. Contudo, ninguém é uma estatística. 

“Estatísticas falam de probabilidades, mas, para aquele ser, ele é o 100 ou o 0”, sublinha Simrat. “Não existe uma previsibilidade, porque o que vai acontecer com você e o seu corpo não é previsível. Somos uma conjuntura, não uma doença”, acrescenta. 


Você pode ter uma doença, mas não ser um doente

Ser diagnosticado com uma condição de saúde crônica pode ser assustador e desorientador. Entretanto, aos poucos, vamos aprendendo medidas para gerenciar aquela desarmomia  e manter uma boa qualidade de vida. 

Ao elaborarmos o que acontece com o nosso sistema corpo-mente-alma, é possível reconhecer e compreender os desequilíbrios. Desta forma, podemos identificar os gatilhos, modificar pensamentos e conviver com a doença de uma forma menos desarmoniosa. 

Não se trata de ser assintomático, mas de saber lidar com a dor ou o desconforto. É sobre encontrar maneiras de gerenciar sua condição e praticar o autocuidado, além de ser adaptável às novas limitações que a situação lhe apresenta. 

Todas as pessoas têm poderes de cura inatos


Quanto mais dilatamos a percepção de quem somos, olhamos com carinho para o nosso corpo, exploramos a nossa mente e ampliamos nossa consciência, maior clareza teremos de que a cura reside dentro de cada um de nós. Entendemos que somos a prescrição da nossa própria cura. 

É compreensível que, diante de um sofrimento ou alguma doença, tenhamos a passividade de esperar que um agente salvador chegue. Algo que traga soluções para os conflitos que vivenciamos e embrandeça as dores latentes do nosso ser. 

A busca por um salvador está muito presente no nosso campo mental. Não nos damos conta, mas estamos reiteradamente nesta procura – seja pela forma como vemos o mundo, os nossos vínculos com o outro ou a nossa relação com quem somos. É preciso expandir o nosso senso de autonomia, reconhecendo esse espaço interno, o conhecimento acerca de si e as manifestações da consciência. 

A cura não é a absolvição de todos os processos, a ausência de problemas ou o fim das doenças. A cura é um processo de conquista da autonomia em que aprendemos a utilizar uma série de ferramentas integrativas que nos permitem lidar com o desafio da desarmonia. 

Leia também: 

Empresas e lideranças regenerativas: como ser mais empático e humano no mundo corporativo?

Ciência e Espiritualidade: estudo aponta técnicas de meditação do Kundalini Yoga para controlar o TOC


A cura é um processo


Compreender a cura como um movimento constante é significativo e transformador. A etimologia da palavra “cura” nos leva para seu significado de origem: o ato de cuidar. Resgatamos este sentido ao estimularmos a autocura: a capacidade de cada ser de equilibrar suas forças naturais, corpo, mente e energia, para reverberar harmonia. 

Este é um processo e, como todo processo, é algo vivo e em constante transformação. Em alguns momentos, estamos retraídos em nossos casulos. Em outros, somos borboletas em um balé que colore os céus. 

Existem diversas formas de sentirmos os sinais da autocura. É um processo que abraça desde o modo como lidamos com as nossas sombras; como nos posicionamos diante dos obstáculos; as nossas atitudes; a capacidade de se abrir para o novo; a delimitação de contornos que sustentam a nossa essência e a essência do outro, e a compaixão que nos une à humanidade de cada ser.  

Você está se curando se está construindo novos hábitos que conversam com sua alma. Está se curando ao ser transparente com o outro e com o que sente. Está se curando ao se permitir chorar. Está se curando se está somando, sendo parte e estendendo a sua mão.

É a partir deste espaço de acolhimento compassivo e escuta que podemos promover um campo regenerativo. Você está se curando se está em processo.

Com amor,⠀

Simrat - Dra Carol Presotto

Medicina da Consciência


Conecte-se com a Medicina da Consciência:

Instagram
LinkedIn
Youtube

Spotify